Pode afirmar-se, sem grandes margens para erro, que as explicações são um daqueles fenómenos cuja difusão à escala global não merece contestação. Aliás, pensamos não ser forçado dizer-se que a “difusão mundial da escola” (matéria que tem sido estudada, entre outros, por John W. Meyer e que já mereceu, em Portugal, honras de antologia organizada ( por Nóvoa e Schriewer, 2000) tem como correlato a difusão mundial das explicações. Ainda que a história das explicações esteja em grande parte por fazer (ao invés do que se passa, como sabemos, com a história da escola), parece-nos plausível admitir que o desenvolvimento dos modernos sistemas educativos e a consolidação da “gramática da escola” (Tyack e Tobin, 1994; Nóvoa, 1995), nomeadamente a centralidade conquistada quer pela pedagogia colectiva (“ensinar a todos como se fossem um só”) quer pelos exames, criaram o ambiente propício para o aparecimento de respostas educativas “alternativas” através das explicações. Sem pretendermos ser exaustivos, apresentamos de seguida alguns argumentos em que nos baseamos para fazermos a afirmação anterior:
1. as explicações podem permitir (embora tal possa não acontecer sempre) um ensino individualizado, o que contrasta com o ensino massificado oferecido pelos sistemas educativos modernos;
2. as explicações podem apresentar-se como o espaço de realização dos trabalhos de casa, o que mostra mais uma dimensão da complementaridade que pode existir com o sistema regular de ensino;
3. as explicações podem ainda realizar a função (quiçá uma das mais apreciadas pelos clientes destes serviços) de preparação para os exames, cuja relevância máxima é atingida no caso do exame nacional;
4. as explicações podem cumprir ainda a função (mais social do que académica, reconheça-se) de apoio à família, oferecendo serviços de ocupação dos tempos livres vitais para uma família nuclear cada vez mais restrita e com elevados índices de ocupação laboral fora da esfera doméstica.
Sublinhar a importância das explicações no contexto educacional das sociedades parece ser um daqueles lugares comuns que aparentemente ninguém contesta. E, no entanto, essa importância não permitiu ainda que o tema conquistasse o espaço que mereceria, seja sob o ponto de vista académico, político, social ou económico. O epíteto de “actividade na sombra” parece ser revelador do que queremos afirmar. Nós próprios já demos conta destas preocupações em trabalhos anteriores (Costa, Ventura e Neto-Mendes, 2003; Costa, Neto-Mendes e Ventura, 2006), ainda que privilegiando enfoques diferentes daqueles que nos movem no presente, não dispomos ainda de evidências empíricas que permitam sustentar uma avaliação deste tipo relativamente à realidade portuguesa.
Alexandre Ventura
António Neto-Mendes
Jorge Adelino Costa
Sara Azevedo
Universidade de Aveiro (Portugal)